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A trajetória de Tormenta, o maior RPG nacional



O maior RPG nacional teve uma longa trajetória até se tornar um dos maiores financiamentos coletivos do Brasil, indo de um simples cenário publicado em uma revista para um RPG próprio jogado por milhares de pessoas. Confira a seguir a trajetória de Tormenta, e conheça mais sobre esse mundo fantástico.


Dragão BRASIL


O mundo dos RPGs no Brasil na década de 1990 foi marcado pela Dragão Brasil, uma revista nacional sobre o mundo dos RPGs publicada pela Editora Trama, mais tarde renomeada para Talismã. A revista se propunha a oferecer adaptações de obras famosas para os sistemas mais jogados na época (AD&D, GURPS, Storyteller...), fornecer regras novas, NPCs e novas possibilidades para se explorar em sua mesa, aventuras prontas, além de matérias sobre o mundo dos RPGs, dicas para os jogadores, contos e HQs originais, e muito mais. Com a eminência de sua 50ª Edição, em 1999, um marco que nenhuma outra revista sobre RPG havia alcançado no Brasil, os editores responsáveis decidiram fazer uma edição comemorativa. Assim a Dragão Brasil 50 vinha com um encarte especial de 80 páginas: Tormenta, criado por Marcelo Cassaro, Rogério Saladino e J. M. Trevisan.

Tormenta era um cenário de RPG compatível com AD&D, GURPS e 3D&T (RPG próprio que também surgiu na Dragão Brasil) e juntava em um único mundo muito do material já apresentado ao longo das edições da Dragão Brasil. NPCs, locais, deuses, itens e outras criações avulsas da revista (como a aventura Holy Avenger, publicadas nas edições 44, 45 e 46) agora pertenciam ao mundo de Arton, nome do continente apresentado nesse cenário. A proposta de Tormenta era entregar um mundo de fantasia medieval que fugisse do convencional, permitindo que os jogadores interpretassem não somente cavaleiros, magos e elfos, mas também samurais, piratas, minotauros... Outro diferencial desse cenário eram as áreas de Tormenta (responsáveis por dar nome ao cenário), regiões de Arton que se tornaram verdadeiros infernos após serem tocadas por uma força alienígena desconhecida. Eram áreas de grande perigo, mas que poderiam gerar aventuras incríveis.

As 80 páginas de Tormenta traziam descrições detalhadas de todas as localidades de Arton, além de informações sobre como mestrar nesse cenário, fichas de NPCs e inimigos desse mundo, regras alternativas, itens novos e instruções para utilizar as áreas de Tormenta em seu jogo.

O sucesso de Tormenta foi enorme, a revista rapidamente se esgotou nas bancas, e logo uma nova edição de Tormenta foi lançada, dessa vez dedicada somente a 3D&T. As edições seguintes da Dragão Brasil trouxeram muito material novo para o cenário de Tormenta, e esse sucesso todo levou a publicação de uma série de revistas spin off da Dragão Brasil, totalmente dedicadas à Tormenta.


Holy Avenger



Ainda em 1999, Tormenta teve um outro fruto. A aventura Holy Avenger, mencionada anteriormente, se tornou uma série de HQs no estilo dos mangás, escrita por Marcelo Cassaro e desenhada por Érica Awano, que durou 40 edições, se encerrando em 2003. Em Holy Avenger acompanhamos a jornada de personagens importantes de Tormenta, como o ladrão Sandro Galtran, a druida Lisandra e a bruxa Niele, em uma busca pelos 20 rubis da virtude, joias contendo o poder dos deuses e capazes de restaurar a vida do Paladino, o maior herói de Arton. Além de apresentar uma história incrível e surpreendente, Holy Avenger explorou muito da mitologia de Arton e de seus personagens.


Tormenta DAEMON


A Dragão Brasil e a Editora Daemon possuíram por muito tempo uma grande parceria, alguns RPGs da editora surgiram nas páginas da revista, e por um bom tempo Arkanum foi considerado o cenário de RPG oficial da Dragão Brasil. Assim em 2001 Tormenta ganhou uma 3ª edição, adaptado para o sistema Daemon, um sistema próprio da editora, utilizado pela maior parte de seus RPGs, que contava com um dado de 100 lados e testes baseados em porcentagem. Os testes nesse sistema não eram feitos com dados de literalmente 10 lados, mas com dois dados de 10 lados, contendo valores de 0 a 9, um representando as dezenas e um as unidades. Em 2005 Tormenta Daemon chegou a ganhar uma nova edição, com regras revisadas.



Tormenta D20



Em 2.000, tivemos uma pequena revolução no mundo dos RPGs com o lançamento da terceira edição de Dungeons and Dragons, pois agora qualquer um poderia produzir material utilizando as regras de D&D, o chamado Sistema d20, através de uma Licença de Jogo Aberto. Assim em 2003 era lançado Tormenta D20, uma adaptação do cenário Tormenta para o sistema d20. Havia dois livros básicos, um para os jogados, com novas raças, classes e adaptações das regras básicas para o cenário de Tormenta, e um para o mestre, detalhando Arton e ensinando a como mestrar nesse mundo. Mas para jogar também era necessário possuir o Livro do Jogador de D&D 3ª Edição, pois a licença utilizada, a d20 System, não permitia que todas as regras fossem transcritas. O sistema d20 conta com um dado de 20 lados para a realização dos testes, e os personagens contam com 6 atributos (Força, Destreza, Constituição, Inteligência, Sabedoria e Carisma), uma série de perícias e talentos, uma raça e uma classe. Tormenta D20 contou com 7 suplementos: um sobre piratas e o uso de armas de fogo, um sobre o continente de Galrasia, habitado por dinossauros, um sobre o panteão de Arton, um sobre a cidade flutuante de Vectora, um sobre a Academia Arcana, um sobre as Áreas de Tormenta e, por fim, uma aventura pronta que colocava os jogadores contra o maior vilão de Arton, Mestre Arsenal, e seu robô gigante. Em 2005 Tormenta D20 ganhou uma nova edição, se baseando em D&D 3.5, uma versão revisada das regras da 3ª edição.


A Trilogia da Tormenta



O principal marca de Tormenta sempre foi as áreas de tormenta espalhadas por Arton (é o que dá nome ao jogo, afinal), mas ninguém nunca soube exatamente o que elas eram, porque existiam, de onde vieram... E foi com a proposta de responder todas essas perguntas que Leonel Caldela escreveu a Trilogia da Tormenta. "O inimigo do mundo", livro que abre essa trilogia, foi publicado em 2006, já nos revelando quem afinal são os seres que habitam as áreas de tormenta e porque elas estão em nosso mundo. Suas continuações, "O crânio e o corvo" e "O terceiro deus" exploram mais ainda a relação da tormenta com o mundo de Arton e revela mais mistérios sobre sua origem, mas não entraremos em muitos detalhes para não estragar a surpresa de quem ainda for ler os livros. A Trilogia da Tormenta apresenta uma jornada épica, digna das melhores aventuras de RPG, apresentando muito bem o mundo de Arton para novos e velhos jogadores, e foi definitivamente um marco, não só para os RPGs, mas para a literatura fantástica brasileira.


Tormenta RPG


Em 2010 o universo de Tormenta teve um novo salto com o lançamento de Tormenta RPG, o primeiro RPG próprio e completo de Tormenta. Ele também se utilizava do sistema d20, mas contava somente com a licença OGL, sem a d20 System, o que permitia ao livro vir com todas as regras sem depender dos livros de D&D, além de trazer várias adaptações e regras próprias. Muitos RPGs atuais se utilizam dessa licença pra contar com o sistema d20, como Pathfinder, Starfinder, Mutantes e Malfeitores, mas todos contam com particularidades próprias, se tornando jogos bem diferentes e únicos. O livro básico de Tormenta RPG contava com 11 raças e 13 classes, dentre elas samurai e swashbuckler. Além de novas regras e melhorias, essa nova edição de Tormenta também atualizou a história de Arton, havia novos acontecimentos e uma mudança no panteão. Havia um vigésimo primeiro deus, e o antigo líder, Kalmir, deus da justiça, foi deposto por Tauron, deus dos minotauros e da força, por consequência da vitória dos minotauros nas guerras táuricas. Houveram 21 suplementos para TRPG, trazendo novas classes e opções para as classes já existentes, classes de prestígio, novas raças, novos talentos, novos equipamentos, novas ambientações... O conteúdo publicado para esse RPG é riquíssimo, e mesmo hoje vale a pena jogá-lo.


Tormenta Alpha


Em 2008, Defensores de Tóquio, aquele mesmo RPG que surgiu na Dragão Brasil, ganhou uma versão melhorada de sua terceira edição, o chamado Defensores de Tóquio 3ª Edição Alpha. Em 2016 Tormenta ganhou uma adaptação para 3D&T com Tormenta Alpha. As regras de 3D&T são bem simples, se utilizando de um dado comum de 6 lados e contando com 5 atributos, vantagens e desvantagens para compor os personagens. Além de toda a ambientação de Arton, Tormenta Alpha também trazia kits para os personagens usarem, um conjunto de habilidades que dependem de certos pré-requistos, que representavam as classes de Tormenta. Como de Defensores de Tóquio sempre se inspirou nos animes e games, Tormenta Alpha não fugia dessa temática, se baseando em aventuras muito mais grandiosas e malucas.


Império de Jade



Apesar da ambientação predominante de fantasia medieval, Arton também possui grande influencia da ambientação asiática, como podemos ver nas classes monges e samurai, e o ápice disso está em Tamu-ra, um reino inspirado totalmente no Japão feudal. Em 2018 nós tivemos esse reino sendo explorado ao máximo com Império de Jade, um RPG focado em Tamu-ra. Apesar de contar com as mesmas regras de Tormenta RPG, e ser compatível com ele, Império de Jade é um RPG próprio com tudo que você precisa para jogar, trazendo inclusive novas regras para melhor se adequar a essa ambientação. O jogo conta com 8 raças, todas baseadas em seres míticos do folclore asiático, e 10 classe, todas também baseadas na cultura asiática. Além de novas versões de monge, samurai e ninja, tínhamos o onimusha, um caçador de monstros, o kensei, um mestre de uma arma, o shugenja, um sacerdote de Lin Wu, o Deus Dragão, dentre outras. O sistema de magia foi substituído por um sistema de jutsus, e o jogo conta com um novo atributo, a Honra. O valor de honra pode aumentar ou diminuir, dependendo do quão honrada for suas ações, e fornecer bônus em momentos críticos.


Tormenta 20



Chegamos então ao último capítulo escrito da trajetória de Tormenta. Em 2019 Tormenta completaria 20 anos, e portanto foi decidido que um material especial deveria ser lançado como comemoração, e o material decidido era nada menos que uma nova edição de Tormenta. Assim em 2019 foi ao ar aquele que por muito tempo foi o maior financiamento coletivo do Brasil, arrecadando mais de 2 milhões de reais. Com uma campanha tão bem sucedida, em 2020 foi finalmente lançado Tormenta 20, o novo RPG do mundo de Arton. Esse RPG continua se utilizando do sistema d20 e da OGL, mas conta com regras novas bem diferentes e inovadoras. Os tradicionais saving throws se tornaram perícias, assim como os ataques corpo-a-corpo e a distância. A evolução dos personagens se baseia em uma lista de habilidades únicas pra cada classe e uma de habilidades gerais. Todos podem ser devotos de algum deus e receber poderes por isso se cumprir com suas obrigações. E mais uma vez o cenário foi atualizado, já que em Arton também se passaram 20 anos desde sua primeira publicação. Há mudanças na geografia e sociopolítica de Arton devido aos eventos dos últimos romances publicados, 3 deuses do panteão caíram e 3 novos entraram, e há uma nova ameaça em Arton, os puristas. Ainda é cedo para dizer o que vem pela frente, quais suplementos serão lançados e que opções poderemos explorar em nossas mesas, mas podemos com certeza presumir que o futuro de Tormenta é glorioso.

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